Nas trilhas da invernada - A escolinha
By Hélio Rezende
Bem cedo tomei gosto pelos
estudos, graças a Deus. Não me lembro bem, mas com cerca de quatro ou cinco
anos me encantei com os livros e cadernos. Isto porque lá em casa no sítio São
Manoel das Invernadas, minha tia Silvana e primeira professora, começou a
ensinar os meninos e meninas das redondezas.
Não era uma sala de aula
convencional. As aulas aconteciam com os alunos sentados em torno de uma mesa
grande improvisada, com dois bancos, um de cada lado. Tudo de madeira rusticas.
Não tinha quadro negro e as lições eram ditadas ou transcritas nos próprios
cadernos dos alunos.
Assim foram meus primeiros passos
com as letras. Ainda não tinha idade para estar ali, mas minha tia aceitou que
eu sentasse junto com os alunos dela e acompanhasse as aulas. Aliás, acho que
ela não teve outra escolha se não me aceitar. Kkkkkk. Sentei na mesa junto com
os demais e pronto. Aí ela começou a me ensinar também. Tenho muito orgulho de
ter sido seu aluno e de ter aprendido as primeiras letras com ela.
Depois a escolinha foi
transferida lá para a Grota da Pedra, na casa do João Cesana. Acho que para que
as filhas dele também pudessem participar das aulas e outros meninos e meninas
das redondezas. Inicialmente, as aulas aconteciam na varanda da cozinha, também
em torno de uma mesa rustica com bancos de cada lado. Depois, as aulas foram
transferidas para a antiga queijeira desativada. Não me lembro ao certo, mas
acho que também não tinha carteiras e quadro negro. Creio que foi um período
bem curto.
Dessa época lembro mais das
travessuras, minhas e do meu primo Sebastião Rezende. Uma delas aconteceu em um
trecho onde a gente atravessava uma trilha no sapezal, próximo à casa de meu
avô Alcides. Um certo dia minha prima Eloíza Rezende e seu irmão Raimundo,
estavam atrasados. Eu e meu primo os vimos descendo o morro e resolvemos
espera-los.
Aí tivemos a ideia de dar um tombo
neles. Era muita travessura! Amarramos uma moita de sapé uma na outra
atravessando a trilha. Não deu outra, a minha prima Eloíza tropeçou no amarrado
de sapê e se esborrachou no meio da trilha. Kkkkkk. Quase levamos uma surra de
sombrinha. Chegando na sala de aula, se é que podemos chamar assim, eu e meu
primo levamos um carão e alguns beliscões da Tia Silvana. Também pudera né!
Para chegar na escolinha da Grota
da Pedra tínhamos que passar por vários atalhos que só eram possíveis a pé. Em
um trecho a gente passava dentro de uma plantação de milho e feijão, recém
brotados das covas. Aí meu primo Sebastião Rezende, teve a ideia de arrancar
algumas covas. Ideia de jerico, de moleque levado. Kkkkk. Quase levamos uma
surra dos nossos pais.
Não sei se meu primo Sebastião
Rezende se lembra dessas estórias!!
O meu primo não sei. Mas eu saí
ileso. Kkkkk
Logo depois a escolinha retornou
para perto da minha casa no Sítio São Manoel das Invernadas. Desta vez em
imóvel construído e coberto de sapê pelos pais dos alunos. Desta vez tinha
bancos e um pequeno quadro negro em que minha tia dava as aulas e passava os
exercícios. Aí ficou bem legal. Não fosse a ausência de paredes e carteiras
podia se dizer que era uma escolinha normal. Mas, o suficiente para que
fossemos aprovados na terceira série.
Se não me falha a memória aos
finais de ano, pelo que me lembro, umas duas vezes, apareceu lá a professora
dona Maria Luiza, da escolinha do areão, designada pela Secretaria de Educação,
à época, e aplicava as provas aos alunos da escolinha de São Manoel das
Invernadas. Me lembro que todos nós fomos aprovados. Findo a terceira série
estávamos aptos a ingressar na quarta série. Mas a escolinha da Tia Silvana
como era conhecida continuou, agora com outros alunos. É que ela, creio, não
tinha autorização para lecionar a quarta série.
Creio que por volta de 1966 ou
1967, a Prefeitura de Juiz de Fora deu as caras por lá, por intermédio do Sr.
Mourão, à época o Secretário de Educação, ou coisa que o valha. Primeiro para
uma visita e depois com as carteiras e, claro, com um quadro negro de verdade, ainda
na escolinha de sapê. Depois de um tempo, para a construção de uma nova escola,
com sala de aula, cantina e outras coisas mais.
A sala de aula toda construída em
madeira, tipo pré-fabricada, pintada em amarelo. A cantina de alvenaria também
na cor amarela. Muito chique, mas eu já tinha concluído a terceira séria e não
usufrui da novidade. Mas minhas irmãs menores sim.
Em 1970 mudamos para Torreões e a
escolinha foi desmontada e levada para perto da segunda ponte, nas terras do
Joaninho. Tia Silvana foi junto com a escolinha e ainda lecionou por lá um bom
tempo.
Em 1968 eu e meu primo fomos
matriculados nas Escolas Combinadas de Torreões, hoje Don Justino José de
Santana e concluí a quarta série com a professora Dona Renê Banhato. Foi um ano
muito bom, posso concluir assim, pois tive um bom aproveitamento e, claro,
aprendi muitas coisas novas. Conheci muitas outras pessoas que também se
lembram daquela época. Mas meu companheiro de todas as horas foi meu primo
Sebastião Rezende.
Como ele morava mais distante,
todos os dias meu primo ia dormir lá em casa. Com sol, chuva ou geada, eu e meu
primo levantávamos às cinco da manhã e rumava para Torreões, pois a aula
começava às sete em ponto e terminava às onze, quando então pegávamos o caminho
de volta. Já com fome e querendo o almoço. Daí a gente apertava o pé para
chegar o quanto antes para o almoço.
Terminada a quarta série começou
em Torreões, no recém-inaugurado, Colégio Don Justino José de Santana, a fase
ginasial. Período muito proveitoso. Creio que frequentei até o início do
terceiro ano ginasial, depois acabei desistindo momentaneamente. Não me lembro
as razões da minha desistência em continuar cursando o ginasial no Don Justino,
naquela ocasião.
Mas depois, mais maduro e com
objetivos definidos, retomei o ginásio, agora denominado ensino do primeiro
grau. Porém não mais em um colégio convencional, mas sim em um cursinho de
supletivo.
Até a próxima.
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