Nas trilhas da invernada - À sombra dos laranjais
By Hélio Rezende
Bom mesmo era
ser menino. Preocupação zero. Vida livre. Montar a cavalo a pelo. Jogar bola. Brincar
de pique de correr e de esconder. Bicho do mato. Sem regras definidas.
Única regra
clara. Você é filho do Jair e da Maria! Era o bastante para não aprontar né!
Kkkk. E claro estar em casa ao anoitecer.
Futuro aberto,
porém, sem horizontes. Assim eu me definia. Muitos sonhos, mas, sem
perspectivas de realizá-los, pelo menos a curto prazo.
Foi assim
minha infância de pé no chão, até aproximadamente os 14 anos. Período bom.
Única preocupação, comer, beber, dormir, brincar e chupar laranjas, além de
outras. Kkkkk.
Tá rindo né?
Era mais ou menos assim. Durante a semana estudando e ajudando o meu pai nas
lidas da roça. Fim de semana pensando no que fazer. Passear por ali mesmo nas
redondezas da invernada. Tomar banho nos ribeirões, e pescar. Como tinha
lambaris! Hoje nem sei se tem mais.
Às vezes ir à
missa em Torreões. Aí era um dia especial.
Aliás revolvendo os alfarrábios de meu pai,
confirmei que o sítio realmente se chamava São Manoel das Invernadas.
Com certeza,
uma vida saudável. Vida ao ar livre. Tudo colhido na hora. Produzido com os
recursos da natureza. Pouquíssimo adubo mineral. Acho que o adubo mineral só na
plantação de milho. Na plantação de feijão muito pouco, quase nada. Na horta de
couve e no arrozal, nada de adubos, somente o adubo natural e decomposto pela
natureza.
Nos fundos da
nossa casa, lá na invernada, meu Pai Jair muito inteligente, apesar da pouca
instrução, preparou um pedaço de terra úmido, claro todo drenado, no qual
plantava milho, feijão e batatas doce. Como era plano e úmido o plantio ocorria
em julho ou agosto, se adiantando ao período normal, para escapar do período intenso
de chuvas. Dessa forma, em pleno janeiro, lá estávamos nós colhendo milho e
batatas doce.
O feijão já
havia sido colhido. Digamos, uma sacada legal do meu pai, para a época,
aproveitando-se do clima do período, bem como as características do terreno
para plantação e colheita fora do período normal.
O certo é que
em janeiro já tínhamos milho pronto para colheita. Uma maravilha. Após colheita
meu pai soltava os porcos que virava e revirava toda a área, atrás das batatas
e outras coisas comestíveis, como por exemplo os pés de caruru de porco.
Ooops. E os
laranjais? Ah sim! Não raro, fins de semana lá ia eu para a casa do meu avô Alcides.
Bastava dobrar o morro pela trilha, que só era possível a pé ou de cavalo, uns
três quilômetros de sobe e desce, margeando ou passando dentro de matas. Na volta
era mais subida e que subidas.
Lá encontrava
meus primos e de pronto, depois das bênçãos, atacava os pés de laranjas do meu
avô. Cerca de uns 15 pés de laranja campista docinha. Digo bênçãos porque sou
da época que se respeitava os mais velhos, os pais e avós. A benção vô, a
benção vó, a benção pai e mãe.
Canivete na
mão subíamos nos pés de laranja, cada um escolhia um galho e começava a
degustação desenfreada de laranjas. As recomendações do me avô: cuidado para
não caírem daí, não quebrem os galhos da árvore. Ainda tinha a aposta de quem
chuparia mais laranjas ao final. E assim foi por muitos anos, até que mudamos
para Torreões.
Antes disso,
porém, o laranjal do meu pai também começou a produzir, mas não tinha como
subir nas laranjeiras por serem árvores novas ainda e com muito espinho. Só de
escada. Daí vez em quando, ainda preferia ir chupar as laranjas lá do meu avô
para subir nas arvores, o mais alto possível e, claro, era uma boa desculpa
para sair de casa.
Às vezes,
antes de começar o consumo das laranjas ainda rolava uma pelada, bola de meia,
tipo dois contra dois. Divertimento puro e saudável. Saudades daqueles tempos.
“Oh! Que saudades
que tenho. Da aurora da minha vida. Da minha infância querida. Que os anos não
trazem mais. Que amor, que sonhos, que flores. Naquelas tardes fagueiras. À
sombra das bananeiras. Debaixo dos laranjais.”
Até a próxima
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