Nas trilhas das invernadas - São Francisco d Paula

 

São Francisco de Paula

By Hélio Rezende

 Eu nasci ali no fundão. Fui criado na invernada. Mas desde muito cedo queria pegar a estrada.

De fato. Este era meu desejo. Que depois de algum tempo e muito estudo se concretizou, claro depois de muita luta. O fato é que acabei me transformando em um cidadão viajado, posto que conheci praticamente todos os estados brasileiros. Digo isso porque só não estive pessoalmente em dois estados e em alguns poucos, só de passagem. Essa é só uma pequena introdução, nada mais.

Essa semana estive em Torreões, para tratar de assuntos particulares. Cada vez mais percebo como mudou. Até mesmo sua gente, as pessoas que hoje vivem lá. Nada contra, apenas observação.

Parafraseando Pe. Antônio Vieira: “Se o Sol, que sempre é o mesmo, todos os dias tem um novo nascimento e um novo ocaso, quanto mais o homem por sua natural inconstância tão mutável, que nenhum é hoje o que foi ontem, nem há de ser amanhã o que é hoje! ” Assim como as pessoas são os lugares pela natural mutabilidade.

Muito apropriadamente também já dizia Heráclito queNinguém entra no mesmo rio uma segunda vez, pois quando isto acontece já não se é mais o mesmo. Assim como as águas que já serão outras.

Ou seja, tanto os lugares como as pessoas mudam, inclusive nós mesmos, considerando que a cada dia que passa mudamos e somos outras pessoas, temos nova essência. Isso também acontece quando vamos a Torreões, pois nem Torreões nem nós somos os mesmos, principalmente quando ficamos muito tempo sem aparecer.

O encontro com a realidade sempre causa algum impacto.

Mas retornando ao tema que me veio à memória. Essa semana, quando lá estive e observei a igreja matriz de São Francisco de Paula, relembrei os passos de São Francisco de Paula pelas estradas e trilhas dos domínios do Distrito de Torreões, na década de 1960. Inclusive pelas trilhas das invernadas. O objetivo, angariar recursos para a reforma e reconstrução da igreja matriz, a mesma que hoje admiramos e nos orgulhamos.

Com este objetivo, São Francisco de Paula deixou momentaneamente o seu altar na matriz de Torreões e, por aproximadamente um ano, percorreu toda a extensão dos limites de seus domínios, na busca de recursos para a obra da igreja. Foram inúmeros leilões de prendas e de gados, além de quermesses e simples doações.

Não me esqueço que São Francisco de Paula pernoitou em nossa casa simples da invernada em um fim de semana, eu acho. Minha mãe que hoje está no céu improvisou um pequeno altar para o nosso São Francisco de Paula em nossa casa. Nessa ocasião houve muitos terços rezados e para concluir um belo leilão com prendas diversas. Todo o dinheiro arrecadado foi revertido para a reconstrução e reforma da nossa igreja matriz. Digo nossa matriz, porque sempre me senti parte desse feito, ainda que muito jovem.

Sempre que vou lá, agora com mais frequência por estar morando mais próximo, aprecio o lugar. A aura que paira é muito legal. Principalmente dos lugares marcados na memória.

A decepção nessa ida foi o antigo colégio Don Justino José de Santana, todo destruído, pelo abandono, o seu acesso e entorno tomado por casas. Parece mais uma viela.

Por isso mesmo, vez em quando fico pensando no tal progresso. Para uns é bom, para outros nem tanto. Para Torreões tenho certeza que o tal progresso não foi bom.

Pode parecer nostálgico, mas eu preferia o Torreões da década de 1960/1970.

 Até a próxima.

 

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