Nas trilhas da invernada - Frango com macarronada - Da vovó

 

By Hélio Rezende

Lembrando a infância

Dia desses fui pescar. Aliás esse tem sido um dos meus “hobes” preferidos. Digo um dos, porque também adoro plantar e cuidar de orquídeas. Este sim, meu “hobe” preferido.

Alguém pode questionar. Porque pescar? É meio entediante, ficar na beira do rio cheio de mosquitos te picando, ou em um barco no meio do rio com o sol a pino, queimando sua cabeça ou à noite com frio e sereno. Em qualquer das situações descritas a pescaria é um dos “hobes” mais relaxantes que existe, na minha opinião. Claro!

Me lembro que quando menino pequeno lá nas invernadas eu já exercitava o “hobe” da pescaria. Ooopppsss! Alguém que conhece as invernadas pode perguntar, mas lá tinha peixe? A resposta é sim. Lambaris. Muito lambaris.

Aliás uma fritada de lambaris é algo sensacional. Me chama que eu vou.

O anzol? Alfinetes de cabeça dobrados e transformados em anzol. A isca? Minhoquinhas recolhidas no quintal. A linha? Barbantes retirados de costuras de sacos e às vezes de desmanche de chapéus de náilon. Varas de bambu, claro.

Ah! Mas tinha uma muito legal, porém não existia na região das invernadas. Aquela varinha de bambu.... que à época, pelo que me lembro, só tinha em Monte Verde. Aí quando meu Tio Mervirio ia a Monte Verde visitar os familiares de sua esposa, a Tia Maria, a gente encomendava.

Oi tio traz umas varinhas pra nois! Aí ele trazia, mas nem sempre, porque o fazendeiro dono do bambuzal não gostava que retirassem os bambus. Mas quando ele conseguia era aquela festa. Caso contrário era varinha de bambu tradicional mesmo.

Mas voltando à introdução inicial, pescar é uma atividade que nem o próprio pescador sabe explicar a paixão do pescador, nem tanto pelo peixe, mas pela pescaria em si. Uma resenha de pescador é algo indescritível. Tem de tudo. Desde uma conversa/resenha sensacional, assuntos diversos, a proximidade com a natureza, que para mim é o ponto alto, até mais que a pescaria propriamente dita.

E o peixe? O peixe pessoal, é só o motivo. A consequência da pescaria.

Dependendo, a gente torce mais para o peixe que para o pescador. E quando pegamos, como aconteceu recentemente com a minha pescaria no Araguaia, peguei um belo peixe – uma Paraíba de cinquenta quilos – tiramos fotos, fizemos farra, teve beijo no peixe e a devolvemos para o rio, seu habitat.

Consciência!!!! Não somos predadores. A natureza é nossa razão de ser pescador, Sem rios limpos não temos peixes. Show!!!

Nessa minha ida agora lá no Pontal do Abaeté, foi muito gratificante. Pegamos peixes? Não.

Mas pude ver a proximidade da primavera. Arvores e arbustos floridos. Os ingás debruçados às margens do rio, floridos e derramando suas flores sobre as águas, servindo como alimento aos peixes, uma maravilha.

Coisa linda de se ver. Aliás, hoje no momento em que estou escrevendo este belo texto, percebi que hoje, os aspectos da primavera estão presentes, embora falte uns trinta dias ainda. Maravilha.

Navegando pelas águas do Rio São Francisco, que aliás, continua lindo, a gente pode observar a maravilha do lugar, natureza exuberante. Gente. Os ingás debruçados às margens do rio é algo sensacional. De alegrar os olhos. Pena que eu não vá lá na época deles para provar o sabor das frutinhas do ingá. Não teria dúvidas. Pediria para encostar o barco e aproveitar dessa gostosura.

Além dos ingás outras flores embelezam as margens do rio. E olha que ainda estamos há cerca de uns trinta dias da primavera. Mas não importa. As abelhas já estão em pleno trabalho de recolher o pólen e o néctar das flores. Promessa de mel e própolis, estas, coisa pouco conhecida à época das invernadas.

Ficamos até preocupado em um determinado ponto, tal era os barulhos das abelhas no entorno do barco. Chegamos até a pensar que poderia ser algum enxame em trânsito para algum outro ponto à beira do rio, onde se instalaria uma nova colmeia. Não era. Continuamos a pescar.

O bom da pescaria é isso. Lembrei de uma passagem na casa de meu avô Alcides. Meu avô tinha uns dez ou doze caixotes de abelhas, colmeias. Tanto que todo ano ele recolhia uma boa safra de mel e cera. Era sempre uma farra.

Em textos anteriores eu falei sobre minhas relações com meus avós e destaquei o meu avô paterno, o meu vô Alcides. Uma pessoa maravilhosa, meu padrinho de batismo. Eu me referia a ele como meu padrinho vovô.

 Numa bela tarde, de um sábado ou domingo de algum ano entre 1965 e 1968, não lembro exatamente, estava aquela farra no terreiro da sede. A pelada com uma bola de meia estava rolando solto. Quando uma galinha atrevida e desavisada, resolveu bicar um favo que estava à mostra na parte de baixo do caixote das abelhas. Aliás um belo favo, cheio de mel. Quase fui lá provar daquela doçura.

Gente. Que foi aquilo. As abelhas esvoaçaram. A galinha ficou literalmente coberta de abelhas.  Elas expulsaram todo mundo da área. Num raio de cerca de cem metros só davam elas. Demorou umas duas horas para que tudo retornasse ao normal. Que pena que meu tio Rubens não está aqui para atestar o que estou falando.

Foi aquele auê. Abelha voando para todo lado. Duvido que alguém não tenha levado uma picada de abelha naquele dia. A molecada saiu vazada. Fomos todos lá para o outro lado, lá na várzea, a uns mil metros das abelhas. Até que elas foram se acalmando e pudemos voltar em segurança. Meu vô ficou preso na cozinha, atrás do fogão aí ele botou lenha e fez fumaça. Foi então que elas foram se afastando e não o atacou.

Mas, pena que alguns não estão mais aqui para confirmar minha estória. Foi tenso.

Mas voltando ao pontal e a pescaria. Alguém vai me perguntar? E o que tem a ver suas estórias com o pontal? De fato, não tem nada a ver. Afinal os locais estão a cerca de seiscentos quilômetros um do outro.

Bom. Tem sim. É nesses lugares que eu começo a me lembrar de momentos da minha infância, ou de outros mementos, que vivi. Daqui a pouco conto mais.

Por exemplo. Durante a pescaria, paramos na pousada do Juarez, que diga se de passagem muito boa. Aliás, é parada obrigatória, porque lá pegamos trato/ração para cevar os peixes. Pegamos as iscas e outras coisas mais.

Desta vez, a parada foi especial. Me trouxe uma lembrança muito bacana. Eu conto.

Dona Preta, a esposa do Juarez, uma pessoa simpaticíssima. Na varanda da pousada, com uma vista para lá de privilegiada do Rio São Francisco, preparando o colorau, que nada mais é que a semente seca do urucum com fubá fininho, no pilão, que depois de socada e passado na peneira bem fininha forma um pozinho avermelhado. Depois de tratado e preparado, misturado ao macarrão era e é uma bela macarronada. Eu detestava quando menino.

Hoje, quero provar. Tenho certeza que vou gostar.

Aliás. Desculpem meus amigos leitores. Vou abrir aqui um breve parêntese. Não conheci nenhuma das minhas avós, nem materna e nem paterna. Mas conheci a vó Ceção. Que pessoa linda e de bom coração. Trabalhava como ninguém o urucum, e sua macarronada era muito bonita. Pena que eu era chato e não gostava. Hoje quero provar e digo de antemão vou gostar.

Aquele macarrão tubular, cozido ao dente... Com molho de colorau. Tô com vontade de comer que é para desbancar minha besteira de infância.

É que não sei porque, eu não gostava de macarrão...

Ah! Não esqueça que acompanhado de um franguinho ao caldo normal. Huuuuu. Deu fome.

Pessoal. Me alonguei demais. Mas valeu à pena.

Até a próxima.

 

 

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