Nas trilhas da invernada – Na lida da roça

 

By Hélio Rezende

Da minha casa, onde moro hoje, vejo o morro do bairro Santa Luzia. Pude observar nesgas de capim gordura, com suas sementes vermelhas colorindo a paisagem. Pena que até lá para outubro a paisagem do local irá virar cinzas, devido as constantes queimadas na área, tornando a paisagem negra e destruída pelo fogo.

E morro ficará, por um tempo, parecido carvão. Uma pena. Mas tão logo caia as primeiras chuvas a vegetação se recupera e o verde volta a reinar. Não como antes, porque algumas espécies não sobreviverão.

Lembrei-me das invernadas, das cachoeirinhas e das araras e redondezas, com suas pastagens dominadas pelo capim gordura, para o deleite dos animais, principalmente as vacas leiteiras. Me veio a lembrança os meses de maio e junho, época em que todo ano, as pastagens ficavam coloridas de vermelho com as sementes do capim gordura. Assim conhecido por ter suas folhas meladas e que agarram como cola nas roupas e peles.

Muito bom para as vacas leiteiras, lembro-me de que em certa ocasião, devido a abundância deste capim em uma área das cachoeirinhas, que havia sido isolada juntamente com a área das roças plantadas de meia pelo meu Pai Jair e pelo meu Tio Mervilio em meia com o Sr. Cândido, foi colhido vários sacos de sementes do capim gordura e espalhados em outras áreas das cachoeirinhas e das araras, onde a incidência do capim gordura era mais escassa.

Meu pai aproveitou e colheu mais alguns sacos extras de sementes e as espalhou nos pastos do nosso sítio das invernadas.

Com este procedimento formou se mais áreas com capim gordura. Não sei se ainda prevalece.

Recentemente, em caminhada de Torreões à invernada, chegamos até a casa do sítio e ficamos conhecendo o atual proprietário. Ele nos confidenciou que estava preparando para plantar um tipo de capim, desenvolvido pela Embrapa, mas resistente e mais nutritivo, com o qual pretendia obter maior rendimento no aleitamento de suas vacas.

Mas voltando ao tema que me veio à memória. Todos os dias às cinco horas da manhã, hora de juntar o gado e trazer ao curral para ordenha.

Menino pé no chão, descalço no meio do mato, campeando as vacas.

Houve um período que o Tio Tunico Trindade montou um curral, próximo lá de casa, em terras alugadas de outros herdeiros do Tio Trindade seu pai, vizinhas ao nosso sítio, e levou para lá umas vacas leiteiras. Acertou com meu pai para que cuidasse e ordenhasse as vacas. Então, todos os dias pela manhã, não me lembro por quanto tempo, lá ia eu campear as vacas para traze-las ao curral.

Pensa num período difícil. Época de frio, pastos sujos, cheio de mato e de espinhos. Cinco, cinco e meia da manhã, lá ia eu atrás das vacas. Em época de inverno, os pés ficavam tão gelados que ao passar em um corguinho que existia lá por perto, a sensação era que água estava mais quente que os meus pés. Kkkkk

Enfim, por volta de seis horas todas estavam no curral para ordenha. Isto porque, por volta de sete horas, sete e meia, lá estava o Antônio filho do Cassianinho para recolher as latas com o cerca de uns cem litros de leite para levar até o ponto do caminhão, se não me engano na fazenda do Sr. Agostinho de Almeida.

Terminada a ordenha lá ia eu e meu Pai para o trabalho do restante do dia, normalmente nas roças do sitio das cachoeirinhas. É que além de cuidar das roças, certa época do ano meu Pai pegava como empreitada alguns pastos para limpar, roçar e arrancar o rabo de burro, pelo menos era com esse nome que era conhecido.

Ou então, retornávamos para nosso sítio – o São Manuel das Invernadas – onde também tinham muito o que fazer. É que lá também tínhamos roça plantada pelo meu pai, pasto para limpar, cerca para consertar.

Tínhamos sempre umas três ou quatro vacas produzindo. Mas aí quem cuidava era minha Mãe Maria.

Enfim, a labuta não parava, às vezes nem nos fins de semana e feriados, aliás, estes não existiam em nosso calendário.

Até a próxima.

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