Nas trilhas da invernada - Estórias da minha infância
Nas trilhas das invernadas
As memórias vão e voltam. Na rota entre minha casa, em São
Manuel das Invernadas e Torreões, existem muitas outras estórias e muita
travessura.
A última que lembrei foi a do Simeão, que surtou e ficou
meio louco, vagando pelas trilhas das invernadas, do fundão e de Torreões.
Mas tem muitas outras! Como as estórias de cachorro loucos
que eram sempre motivo de medo da meninada. É que a gente sempre transitava sozinho
pelas trilhas e estradas das invernadas.
Aliá o mês de agosto
é conhecido na roça como mês do cachorro louco. Tudo isso por causa das estórias
contadas acerca da existência de cachorros descontrolados nesse mês, que saiam
da casa de seus donos e vagavam pelas trilhas e estradas atacando quem
aparecesse pela frente.
Pai Jair contava uma estória de um cachorro acometido pela
loucura que vagava pela região da boa vista. E que foi preciso matar o animal
com um tiro de espingarda.
O medo das pessoas era tanto que era preciso matar o animal,
porque se atacasse e mordesse alguém, essa pessoa adquiria a doença e não tinha
cura. Contava-se que houve casos de ter que sacrificar o animal e a pessoa.
Por favor. Não me pergunte se é verdade. Não sei e não vou
duvidar do que disse meu Pai Jair. Ele não está mais aqui para confirmar a
estória.
Tem as estórias do João Marciano (João Duro) que morava em
um casebre num lugar chamado Pedrosa, próximo ao morro do Soares (do carvão) e
do fundão, onde nasci. Um indivíduo de uns 2 metros que morava sozinho numa
casa simples nesse lugar isolado. Acho que vivia do que conseguia produzir em
sua horta, é que na época acho que não tinha ajuda do governo – BPS, LOAS,
Bolsa Familia) – nada. Nunca se soube se tinha família.
Eu e meu primo Tião vez em quando, voltando de Torreões depois
da aula, passava lá para vê-lo. Sempre sentado em um banco do lado de fora do
casebre, cachimbo na mão lá estava ele. Toda vez que passávamos por lá ele nos
oferecia um café. Menino besta, sempre aceitava. Ô café ruim!!!
Feito com a garapa da cana. Mas ruim.
Não que o café feito com a garapa da cana fosse ruim, mas o
dele era. Aliás tomei muito café feito com a garapa da cana. Da minha mãe, por
exemplo, era ótimo. Da Tia Maria e da Tia Silva também.
Depois de um tempo o João Marciano (João Duro) foi morar em
Torreões perto da minha querida Tia Nair, na antiga cadeinha de Torreões, pelo
menos era assim que era chamada a casinha na descida para a igrejinha da penha.
Houve um tempo em que ali também funcionava o cartório de Torreões. Apesar de
todo cuidado possível para a época, devido a idade, ele veio a falecer.
Tinha também o Chico da Dona Cota que morava na casa velha.
A casa velha, vale relembrar era uma casa que ficava abaixo da estrada e sob a
sombra de umas três moitas de bambu gigante, aquele riscado. Não tinha nenhuma
atração.
Bom, mas temos duas
estórias; a do Chico e de sua mão Dona Cota.
Primeiro a da Dona Cota. Uma senhora alta, esguia, vestido
longo e de cabelos brancos amarrados em rabo. Simpática e risonha. Vez em quando
aparecia lá em casa para conversar com minha mãe e, claro pedir alguma coisa.
Ela era benzedeira. Aí mãe aproveitava e mandava ela benzer
a meninada. Quando ela começava com os raminhos molhados sobrava menino para
todos os lados. Aí mamãe começava a chamar a gente de volta e ela falava. Tem
problema não Dona Maria. Estão correndo e eu estou benzendo. Era muito divertido.
Mas depois que ela ia embora era aquele carão. Próxima vez vão
entrar no chinelo.!!!
Já o Chico da Cota, filho da Dona Cota era para trabalhar e
contratado para ajudar a capinar milho e roçar pasto. Última vez que esteve lá
nos ajudando ele arrumou maior encrenca com meu primo. Tive que entrar no meio
da controversa.
Passei pela trilha novamente agora recente. Uma pena. Toda
fechada e trechos com eucalipto.
Córregos secos. Áreas secas. Trechos que tinham ananás hoje
só eucaliptos. Uma pena.
Penso que explorar eucaliptos é muito melhor que a mata
nativa. Mas, infelizmente o eucalipto destrói temporariamente a fauna e, principalmente
a flora nativa.
Até a próxima.
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