Nas trilhas da invernada - Embora de pé no chão

 

Embora de pé no chão. Nada faltava.

Assim era nós vivendo nas invernadas. Era uma casa simples sim, mas cheia de amor e bons exemplos. Expectativas de vida simples. Nem em sonho imaginava-se os dias de hoje.

Aquelas paragens bucólicas das montanhas simples das invernadas, jamais esquecidas, nem de longe eram prenúncios de que um dia percorresse outras terras e conhecesse outras montanhas. As montanhas de Minas, com seus traçados imortalizados nos contornos da igrejinha da Pampulha em Belo Horizonte. A igrejinha de São Francisco de Assis.

Sem deixar, claro, de exaltar o meu Torreões querido, onde nasci, cresci e virei gente e a igreja de São Francisco de Paula, onde fui batizado e crismado. Ser grato ao seu rincão e a sua terra natal, é uma obrigação. Me sinto completamente à vontade e em casa, mesmo não morando mais lá, cada vez que vou a Torreões. Acho que de verdade nunca saí de lá. Assim como em pensamento, nunca saí das invernadas.

Lembrar momentos passados não é ser saudosista, é estar em conexão com todos os momentos de nossas vidas. Por exemplo, não é possível esquecer, as primeiras professoras, aquelas que nos mostrou os caminhos das letras. Aqui faço uma pausa para reverenciar minha primeira professora, a Tia Silvana, por ter me iniciado nos caminhos das letras, numa escolinha, embora deficiente do ponto de vista de recursos pedagógicos, mas repleta de carinhos e de vontade de seguir em frente. Às vezes até com alguns beliscões. Presta atenção menino!!

Não dá para esquecer os primeiros passos, com cambaleios e tombos. Dos primeiros amigos, aqui uma referência especial aos meus primos. Nossas brincadeiras e travessuras, às vezes até perigosas, embora saudáveis. As primeiras namoradinhas, os primeiros beijinhos, adoçados com o açúcar da inocência.

Tudo isso, embora passado, faz parte da nossa conexão com o nosso presente. O que somos hoje é resultado direto de nossas escolhas do passado. Por exemplo, tivesse eu escolhido permanecer na roça, digamos, mais precisamente permanecer nas invernadas, talvez fosse hoje um granjeiro, com sucesso ou não. É que quando fazemos uma escolha para nossas vidas, jamais saberemos como teria sido se outro caminho tivéssemos tomado.

Não sei precisar em que momento da minha vida fiz minhas escolhas de vida, se é que as fiz. Lembro que quando menino, perambulando pelas veredas e trilhas das invernadas, tinha muitos sonhos, alguns até, digamos, mirabolantes, mas plausíveis. Embora ainda não conseguia distinguir com muita clareza o significado, um destes sonhos era ser feliz. Outros mais palpáveis era ganhar o mundo, meter o pé na estrada, como dizem hoje.

Acho que ser feliz não é um sonho, mas uma qualidade humana. Afinal todos nós estamos aqui neste mundo para ser feliz. Me considero uma pessoa feliz, pois alcancei vários objetivos de vida, tenho bons amigos e boas relações que são reciprocas. Tenho uma bela família, mulher, filho, irmãs e primos, pessoas sensacionais.

Uma definição de felicidade que achei sensacional: “A felicidade reside em encontrar para minha circunstância a resposta mais adequada de acordo com meu projeto, minha vocação. Sou feliz quando consigo a sintonia mais perfeita possível entre mim e minha circunstância.” Definição tirada a partir dos princípios do filósofo espanhol Ortega y Gasset e sua máxima: “Eu sou eu e minhas circunstâncias.”  

O meter o pé na estrada me fez crescer como ser humano e como profissional. Não é possível mensurar o crescimento das pessoas quando elas se desapegam e buscam seu próprio caminho. Conhecer lugares, pessoas, outras ideias, é algo sem mensuração. Nos coloca em outro patamar de vida e em um nível profissional imensurável.

Em que pese não saber precisar em que momento fiz minhas escolhas de vida, tenho certeza que elas foram corretas. Bem da verdade, acho que algumas escolhas, não foram bem escolhas. É que eu estava preparado e no lugar certo, na hora certa. Daí foi só aceitar os desafios e ir em frente.

Costumo brincar comigo mesmo que a maioria dos planejamentos de vida que fiz nenhum saiu como eu planejei. É que depois dos ajustes, seja por opiniões ou algumas correções de rumos o produto ou resultado final saíram melhores que o projeto inicial.

Afinal de contas a vida nos é dada, mas não nos é dada pronta. Desde que nascemos, temos que construir nossa própria história e é sempre um que fazer, sem fim. Ou seja, nunca estamos prontos.

Amigos, não se colhe o que não se planta.

Até a próxima

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