Entre flores e livros - Saudosas lembranças
Saudosas lembranças
Último sábado dia 13 foi dia de nova caminhada. Desta vez um
pouco mais curta, mas bastante agradável: Torreões ao Mascate.
Trecho conhecido por mim, porém em face dos anos sem percorrê-lo
pude perceber algumas alterações, claro, para melhor. Como por exemplo o estado
da estrada e o aumento de moradias, principalmente nos arredores do Mascate,
agora servido por ônibus vindo de Torreões e também de Monte Verde.
Desde os tempos em que morei em Torreões e durante muito
tempo depois o trecho de Torreões x Monte Verde e Torreões x Mascate era
percorrido à pé, de cavalo ou quando alguém dispunha, de carro.
Imediatamente me veio à lembrança uma ida minha de Torreões
a Monte Verde, de cavalo e à noite.
Em 1971 eu era o Trocador (Cobrador) do ônibus de Torreões e
o motorista, meu tio Adilson. Uma certa vez, não me lembro em qual mês, talvez
setembro/outubro de 1971 ele pegou caxumba – doença que poucos conhecem – pois em
virtude das vacinas, hoje se encontra erradicada. Mas é uma doença que ataca os
gânglios do pescoço e se não ficar de repouso, em homens, pode descer para os
testículos.
Logo que pegou a doença, meu tio ficou uma semana de repouso.
Nessa semana quem dirigiu o ônibus foi Nenzinho lá de Monte Verde. No final de
semana como meu tio já estava melhorando não seria mais necessário o Nenzinho
continuar a conduzir o ônibus na semana seguinte. Aliás, um dia desses
encontrei o Nenzinho ali nos Teixeiras e estávamos lembrando dessa estória.
Para quem não conhece a estória completa o Nenzinho é irmão do Jorge vovô e do
Jaime, todos de Monte Verde e que trabalhavam para o Gildo Leonel, dono da
Viação Santo Antônio, que fazia a linha de Torreões e de Monte Verde.
Aqui, um pequeno parêntese: os três jogavam muita bola,
principalmente o Nenzinho.
Naquela época não havia ônibus aos domingos, portanto,
ficávamos de folga. No sábado, como estava melhorando da caxumba, meu tio
resolveu sair para caçar. No domingo a tarde a doença piorou e ele não tinha
condições de conduzir o ônibus até Juiz de Fora na segunda-feira e na semana
seguinte.
Podia ser umas sete horas de domingo aí começou. Alguém está
indo para Monte Verde? Precisamos avisar o Nenzinho para que ele venha fazer
linha Torreões x Juiz de Fora na segunda-feira. Não apareceu ninguém. Sobrou
para quem? Pro Hélio.
Já era mais de 8 horas da noite lá vamos nós de cavalo pelas
estradas de Torreões para Monte Verde se borrando de medo para buscar o
Nenzinho, porque a linha de ônibus teria que funcionar na segunda-feira. Foi
uma aventura. Domingo à noite estrada deserta só grilo e vagalume. Uma lamparina
acesa com sua luz tênue e vacilante, aqui e acolá. Encolhidinho em cima do
arreio lá foi eu. Eu e Deus pela estrada até Monte Verde.
E para encontrar o Nenzinho lá em Monte Verde. Depois de um
tempo o encontrei, falei com ele e ai ele me disse. Ok! Vou amanhã de manhã bem
cedo, lá pelas sete da manhã estarei lá. Isso já umas dez horas da noite.
Lá veio o Hélio de volta se borrando de medo. Cheguei em
Torreões quase meia noite. Que domingo! Que noite! Que jornada! Mas estamos
aqui, firme e forte.
No outro dia logo de manhã o Nenzinho chegou e fizemos a
linha normalmente. Ao chegar na garagem avisei ao Sr. Gildo que não mais iria
trabalhar como trocador do ônibus de Torreões. Ele me perguntou porquê?
Respondi que eu e meu tio Adilson havia nos desentendido que não seria mais
possível trabalhar com ele.
Eu e meu tio Adilson, ficamos um bom tempo sem se falar.
Logo no início da caminhada, o destaque é o ponto de um lugar
chamado 29 em que se avista parte de Torreões e as torres da igreja de São
Francisco de Paula. Imediatamente me veio a lembrança das estórias do meu amigo
Danilo Fonseca.
Em uma delas ele conta que quando vinha com seus avós da Ameixeira
para Torreões, lembra de que nesse mesmo ponto do 29 seu avô parava o cavalo,
tirava o chapéu e olhando para as torres da igreja de São Francisco de Paula
proferia a seguinte oração: “Avistei a casa santa, onde Deus fez a morada, onde
está o cálice bento e a hóstia consagrada.”
Para lembra-lo repeti o gesto de seu avô. Só que ao proferir
a oração, o fiz apontando a câmera para as torres da igreja e gravando proferi
a oração. Depois mandei a gravação para ele.
Como uma estória puxa outra lembrei-me de que minha mãe
repetia essa mesma oração, quando a gente vinha da invernada para missa em
Torreões, só que do alto do morro do soares (carvão) na divisa com o sítio pedrosa.
De lá também se avistava Torreões e as torres da igreja de São Francisco de
Paula. Hoje não se avista mais por conta da mata fechada e das arvores que
cresceram no alto da divisa do pedrosa com o morro do soares.
Aliás, naquele tempo ainda havia a possibilidade de fazer a
descida por fora da mata, pelas terras que foram do meu avô – o fundão –, mais
acessível e com uma descida mais suave. Essa possibilidade durou algum tempo e
enquanto as terras estiveram locadas para o Tião do Totó, marido da minha
saudosa Tia Nair.
Depois que findou a locação, as terras mudaram de dono em
definitivo, aí não foi mais possível a descida por ali e tivemos que encarar a
trilha irregular pelo morro do soares. Perdi a conta de quantas veze passei por
ali.
Depois de muitos nos fora da região, agora em 2018/2019,
fizemos a caminha de volta – Torreões x Invernada – fazendo o mesmo percurso de
antigamente. Claro, alguns trechos, como a subida do morro do soares (carvão)
estava impraticável todo tomado de mato, porquanto já não passa mais ninguém por
lá. A passagem foi fechada. O mesmo ocorrendo com trecho do pedrosa, também
fechado e depois a área dos eucaliptos, que apesar de uma estrada aberta
encontra-se tomada pelo mato.
Uma aventura, mas que precisava ser feito para matar a
saudade dos tempos de adolescente em que eu e meu primo Tião do Mervirio percorríamos
o trecho para frequentar a escolinha da quarta série e depois o ginásio em
Torreões.
Até a próxima.
Comentários
Postar um comentário