Nas trilhas das invernadas - Velhos caminhos

 

Velhos caminhos

Fim de semana de muito sol e calor. Caminhada da segunda ponte do Rio do Peixe até um pouco antes da fazenda do falecido Sr. Agostinho de Almeida. Aquele mesmo da banda de música que abrilhantava as festas de Torreões, Toledo e Humaitá.

Primeiro desafio. A subida até virar para as antigas terras da fazenda do Sr. Bebem. O inicio da caminhada começou por um trecho plano e ladeado de bambuzais. Apesar de íngreme, a subida foi muito prazerosa, devido às belezas naturais. Destaque para a vista da pedreira, apinhada de bromélias, muitas arvores, algumas, como as quaresmeiras em flor. Aliás essa foi a tônica por todo o trajeto. Quaresmeiras em flor.

Mas um olhar para a esquerda e a vista estonteante das pastagens do outro lado do Rio do Peixe. Lá longe uma ou outra canafista coberta com suas flores amarelas.

Passada a primeiro desafio, veio as planícies das terras da antiga Fazenda Engenho da Boa Vista, desbravadas pelos meus ancestrais e meu tetravô José Rezende Franco. O trecho me trouxe muitas lembranças, como por exemplo o ribeirão, onde pescávamos quando menino. Dificilmente voltávamos para casa sem uns belos exemplares de carás, traíras e bagres. Talvez venha desse tempo o gosto pelas pescarias que ainda cultivo até hoje.

Os caminhos e atalhos para o sítio do gavião, a estrada para Toledo. Foram trilhas e caminhos várias vezes percorridos.

Em seguida a vista dos terrenos que foram do meu avô e a bela pedreira ao fundo, a indescritível marca registrada do sítio do gavião. Sempre com a recomendação de que não se aproximasse da borda da pedreira. Se cair não sobra nada. E não é que certa vez uma vaca desavisada rolou pedreira abaixo e morreu! Lá fomos nós aproveitar a carne da vaca. Era bem assim!

 São muitas lembranças da minha infância, de pé no chão, mas repleta de coisas boas.

A estonteante vista da serra da boa vista e seu areal. A mata no topo da serra quase que intocável, recortando toda a sua extensão. Falavam que tinha onça e porco do mato. Ainda deve ter. Um perigo para quem a transpusesse por um caminho que ali existia, um atalho mais curto que passava por dentro da mata para chegar a Toledo. Nunca o utilizei, meu pai é que falava desse caminho. A vista da serra é um espetáculo particular.

A caminhada prossegue. As lembranças também. Por exemplo da fazenda da Boa Vista, já de propriedade do Sr. Felismino Trindade ( tio Mimino). Como gostava de uma festa com comes, bebes e baile. Ainda menino tive oportunidade de ir em algumas dessas festas. A sede da fazenda já não existe mais. Apenas o lugar e as lembranças.

Passei ao lado da várzea onde meu pai e meu tio Mervirio plantavam roça de meia com tio Mimino – milho e feijão.

Não demorou muito e logo apareceu a varginha, onde morava o Tunico Trindade. Lá tinha um campo de várzea, onde vez em quando costumava acontecer uma pelada. Mas lá, numa casa mais adiante também morava o Cassianinho, que dentre outras coisas cortava cabelo da molecada. Fui lá várias vezes para cortar cabelo e aproveitava e participava da pelada.

Interessante que naquela época a máquina de cortar cabelo era manual e quase sempre cega. Ou seja, mais arrancava do que cortava o cabelo. Não sei como não fiquei careca, porque quando não era no Cassianinho era no meu avô, que também tinha uma máquina dessas. Kkkk

Logo veio o segundo e principal desafio. A caminhada prosseguiu e passamos no local onde era a fazenda do falecido Sr. José Maximiano. Hoje não há nada e nem coisa alguma a lembrar que ali um dia existiu uma fazenda próspera, talvez uma das mais rica da região. Se alguém que não seja da região passar por lá, sequer vai imaginar que ali um dia existiu uma fazenda, por falta de qualquer vestígio.

Mas chamou-nos a atenção um arvore centenária, próximo onde existiu a fazenda. Um lindo exemplar de um Jequitibá Amarelo, uma raridade, logo no início da subida da serra. Uns dois quilometro de subida, sendo a parte final, talvez uns oitocentos metros, bastante íngreme e que exigiu bastante dos caminheiros. Pelo menos, ao final todo mundo reclamou.

A subida da serra inicia com uma leve inclinação que vai acentuando. Embora cansativo, boa parte da subida encontra-se dentro da mata e com muita sombra o que amenizou bastante o cansaço, devido ao sol das onze horas. A mina d’água um pouco antes da parte final ajudou bastante. Água limpa e fresca, aliado à sombra das árvores, uma maravilha.

Vale lembrar, que por toda caminhada foi sol e flores, ainda que estas ocorriam mais distantes. No trajeto passamos por locais de matas, currais e plantações. Tudo lembrando as coisas da roça, o que como já dito, me trouxe muitas lembranças.

Por fim, chegamos ao destino. Hora de descansar, refrescar, beber alguma coisa e comer. Uma bela aventura.

Como já tinha dito em outro post não sou saudosista, apenas tenho prazer de lembrar de como foi minha infância e dos lugares por onde passei. Até porque os tempos não voltam mais.

Fim de abril tem mais.

Até a próxima.

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