Nas trilhas das invernadas - A ponte da estiva
A ponte da estiva
Vai e vem, e a gente sempre lembra de alguma coisa, lugar ou
acontecido pela vida a fora, ou mesmo do passado. No meu caso a infância e
parte da adolescência.
Na memória? A ponte da estiva. Travessia obrigatória para
quem morava lá pelas bandas das invernadas. Passava por ali quase todos os
dias.
Um trecho de travessia, com cerca de uns 150 metros, úmido e
barrento o ano inteiro – água suja e barro. A travessia de uma ponte sobre um
córrego e o trecho entre árvores, molhado o ano inteiro. Não importava se era
tempo de seca ou de chuva. Sempre molhado, e passível de se atolar. À pé,
sempre a possibilidade de molhar e sujar os pés ou o calçado.
Preocupado porquê? Lá
pelas bandas das invernadas o nosso calçado era a sola grossa e calejada dos
pés. Tinha pontos que não era qualquer tipo de espinhos que entrava, tal a dureza
dos calos.
No inverno então, além da umidade ainda havia a ocorrência
de geada, o que tornava o trecho ainda mais ruim de atravessar. Pés descalços
congelavam.
Chinelo! Não possuíamos. Sapato! Só para ir à missa em
Torreões aos domingos. Mesmo assim só na chegada, que era para não gastar os
sapatos. Aí a água que vinha da região da Fumaça e desaguava na cachoeira do
Brás Correia era providencial. Um ribeirão com bastante água e espraiada, no
topo, antes de despencar pela cachoeira servia para tirar a sujeira dos pés. Em
seguida, meia e sapato para acabar de subir o morro, e só.
Uma pena. Porque ao passar recentemente por lá pude
verificar que a água do ribeirão da fumaça que era abundante, hoje é apenas um
filete!!! E o espraiado não existe mais. No lugar foi construído uma ponte com
aterro sobre manilhas.
Lembro que levei várias broncas da minha mãe. É que vez em
quando ela me flagrava jogando bola no campo de Torreões com meu único sapato.
A ponte da estiva foi muito presente na minha infância.
Primeiro, é bom lembrar que a ponte era uns 20 metros mais abaixo de onde está
hoje e só passava cavalo ou a pé e com muito cuidado, carro de boi. É que em um
dos lados da ponte existia uma pedra enorme, em curva e ovalada, que ainda até
hoje está lá. A ponte mudou de lugar, mas a pedra não. Me lembro até hoje dessa
pedra, até para pedestre era ruim de passar.
Quando o trator da prefeitura passou por lá, abrindo e a
alargando a estrada, que liga Humaitá à segunda ponte do Rio do Peixe, a ponte
foi realocada para uns 20 metros acima, transformou o trecho numa reta e sem a
tal da pedra.
Houve também a tentativa de aterrar todo o trecho de cerca
de 150 metros para acabar com o atoleiro. Tal iniciativa durou pouco. Alguns
anos depois após as chuvas normais o barro e a umidade voltaram ao trecho.
Recentemente passei lá novamente e lá estavam imponentes, a umidade e a lama
pelo trecho. Agora calçado com tênis. Não teve outro jeito se não o sujar.
Ficou todo enlameado.
Mas o que tem a ver esse lugar?
Lembranças da minha infância e parte da minha adolescência.
Lugar onde pesquei e me banhei. O ribeirão da estiva, embora, na beira da
estrada era meu lugar preferido. Com alguns paus e umas pedras aparecia logo
uma pequena piscina natural e de agua corrente. Aí era só felicidade.
E se aparecesse alguém? Bom! Aí era só turvar um pouco a
água e permanecer dentro dela até o caminhante ou cavaleiro inesperado passar e
prosseguir sua viagem. Depois era só terminar, colocar a roupa e ir embora.
Não havia perigo? Da água em si não. Nem dos viajantes
inesperados. Éramos muito conhecidos na região. Hoje já não há como garantir a
segurança. A região próxima virou local de chácaras e as pessoas já não são tão
conhecidas assim.
O tempinho bom. Era só alegria.
Até a próxima.
Comentários
Postar um comentário