Nas trilhas das invernadas - A onça pintada

 

A onça pintada

Agora em junho, participei da caminhada mensal com meus amigos e primos lá de Torreões. Combinamos que pelo menos uma vez por mês façamos uma caminhada pelas estradas da redondeza. Temos camisa de uniforme e tudo.

Funciona assim. O grupo de cerca de 15 pessoas, amantes da natureza e de aventuras, combina uma caminhada uma vez por mês. Alguém sugere uma rota de aproximadamente 10 Km e que sempre termine em um ponto de apoio, normalmente um bar, um restaurante, onde repomos as forças. Essa última, em 23/07 foi puxada, 14 km. Mas de boas, demos conta.

Sobre essa última, cabe destacar que o ponto final foi no estabelecimento do Murilo, Café na Estrada, muito bom o local.

Após a reposição das forças, com alguns copos de cervejas e uns tira gostos, alguém nos resgata de carro e retornamos para Torreões, para um churrasquinho, ou uma galinha bem caprichada. O nome do grupo? Ah, ia me esquecendo! “ Caminhada Alcológica”.

Conforme acordado entre os membros do grupo, dia 25 de junho, sábado, ocorreu a 6ª caminhada de 2022. O trecho escolhido foi para a Lagoa, passando pelo fundão, até a antiga propriedade do Sinhô Pereira e Lagoa. O ponto final foi em boteco rustico já na estrada que liga a Lagoa a Torreões - trajeto do ônibus. Após aquela relaxada com uns copos de cerveja retornamos para Torreões e aí foi aquela churrasqueada.

Dia seguinte a essa caminhada, que ocorreu em 25 de junho, sábado, fui surpreendido pelo meu primo Sebastião Rezende com o relato de que uma onça estaria pelas redondezas, possivelmente habitando as matas do entorno de Torreões. Em sua narrativa, acerca da fera, ele disse para mim e para o Chiquinho, que há notícias de que tal fera anda atacando os galinheiros de sítios da região, bem como de relatos de vacas prenhas que dão crias e que essas crias desaparecem, sugerindo que os bezerrinhos logo que nascem são devorados pela fera.

Mais incisivamente o primo me contou uma estória de uma pessoa das bandas da região do 29 que foi consertar uma cerca no alto do morro, divisa com um dos vizinhos. Com ele dois cachorros que o acompanhava. Determinado momento, enquanto fazia seu serviço, os cachorros adentraram à mata e começaram a latir, como se estivessem levantados alguma caça. Minutos depois começou a escutar o choro de um dos cachorros, parecendo que estava ferido.

Ao chamar os cachorros de volta só apareceu um deles e mesmo assim muito assustado. Então resolveu averiguar o que estava acontecendo. Ao adentrar à mata deu de cara com o segundo cachorro morto e todo estraçalhado. Quando olhou para uma das arvores avistou a onça sobre um galho. Com medo, abandonou imediatamente o local, não dando maiores detalhes do animal, como tamanho, cor, etc.

Tal narrativa me fez lembrar do Marques de Rabicó, em as Caçadas de Pedrinho no episódio narrado no livro de Monteiro Lobato.

“Certo dia em que Rabicó se aventurou nesse mato em procura das orelhas-de-pau que crescem nos troncos podres, parece que as coisas não lhe correram muito bem, pois voltou na volada. — Que aconteceu? — perguntou Pedrinho, ao vê-lo chegar todo arrepiado e com os olhos cheios de susto. — Está com cara de Marquês que viu onça... — Não vi, mas quase vi! — respondeu Rabicó, tomando fôlego. — Ouvi um miado esquisito e dei com uns rastos mais esquisitos ainda. Não conheço onça, que dizem ser um gatão assim do tamanho dum bezerro. Ora, o miado que ouvi era de gato, mas muito mais forte, e os rastos também eram de gato, mas muito maiores. Logo, era onça.

Mas deixando o Rabicó de lado, meu primo ainda nos alertou para que tomássemos cuidado ao caminhar pelas encostas de matas à beira das estradas por onde passávamos, pois poderia ser perigoso. Disse para ele que na região não teria animal de porte a encarar presas do tamanho de uma pessoa adulta. Lembrei a ele que quando da nossa infância e adolescência transitamos por todos os caminhos da redondeza, passando por restingas e bordas de matas, trechos de ligação entre matas e outras situações, em quaisquer horas do dia, como à noite, de manhã à tarde, madrugada e nem sequer vimos alguma jaguatirica, lobos e outros animais selvagens noticiados na região.

Sobre a tal onça, sabe-se que na região da zona da mata mineira, havia várias delas e que podem de fato ter alguma na região, como aconteceu recentemente nas matas do krambeck, reserva natural e elevada a Jardim Botânico da UFJF. Diante do relato do meu primo me interessei em pesquisar alguma coisa sobre as onças.

Antes, porem, de prosseguir, agora por ocasião do torneio leiteiro, ao comentar a estória das onças com um antigo conhecido da invernada, chamado Pedro Leonel, ele me confirmou as existências de onças na região.

Não desacredito, mas continuo com a opinião de que não há na região, animal de porte a atacar uma pessoa adulta. Há que considerar também que, conforme pesquisas, humanos não fazem parte do cardápio dos felinos que só ataca se sentir acuados. Mas a tendência é que o animal se afaste ao primeiro movimento.

Quanto às pesquisas vejamos:

“A onça pintada - com o nome científico de Panthera onça, é o maior felino das Américas e terceiro do mundo. Há um exemplar do felino no acervo do Museu Mariano Procópio, medindo 2,14 metros, que viveu em matas da região de Porto Novo do Cunha, atual Além Paraíba (MG), onde foi caçado, empalhado pelo processo de taxidermia e doado à Alfredo Ferreira Lage.

Devido à alta fragmentação de seus habitats, as onças pintadas se encontram ameaçadas de extinção, por demarcarem grandes áreas territoriais, cada vez mais restritas, o que as obrigam a procurar alimento nas fazendas. De hábitos solitários e noturnos, consomem grande variedade de animais, como porcos-do-mato, capivaras, veados, jacarés, peixes e aves.

Em contraste com a maioria dos outros grandes carnívoros, os ataques de onças-pintadas a humanos são considerados extremamente raros, pairando uma visão geral de que ataques de onças a humanos são quase inexistentes.

De todo modo, cautela e caldo de galinha não faz mal a ninguém. Mesmo que não ataque humanos, sempre é bom ter cuidado.

Embora, nossas rotas de caminhada passem por pontos de matas como restinga e bordas, nós sempre caminhamos em grupo. Outro aspecto é que caminhamos durante o dia e não à noite.

Ainda criança, ouvi muitos relatos sobre onças na região das invernadas, mas nunca sequer ouvi um miado de onça, quanto mais avistar um exemplar. E olha que transitei por quase todos os lugares da região, inclusive adentrando às matas para apanhar lenha, taquara ou apenas porque era por ali o caminho por onde transitava.

Minha casa mesmo, ficava encravada em uma grota, cercada de mata por cerca de mais de 80%, sendo que na parte mais alta as matas se interligavam, formando um corredor ecológico, facilitando o trânsito de animais selvagens de uma área para outra. Que eu me lembre nenhum animal desapareceu lá de casa e que tal fato pudesse suscitar a possibilidade de ter sido devorado por alguma onça à espreita.

Entretanto, me lembro dos mais velhos contar estórias de onças.

Uma delas, num trecho de uns 1000 metros de mata da serra da Boa Vista na estrada para Toledos, no encontro com Rio do Peixe. De um lado o trecho da mata da serra da Boa Vista e do outro lado do rio uma outra área de mata fechada, formando um verdadeiro corredor ecológico tendo como única barreira, a travessia do rio. Mas com extensas áreas de mata fechada de um lado e de outro do rio. Na outra margem do rio, já na região de Pirapitinga. O rio, como se sabe não é obstáculo à travessia de onças, considerando que são ótimas nadadoras. Dizia-se que por ali transitavam as onças moradoras das matas da região, cuja fauna é rica, por exemplo, em porco do mato e claro que pela sua extensão, rica também em muitas outras espécies.

Outro trecho que também era citado como passagem de onças é o trecho de mais ou menos 150 metros da estiva, na invernada, mencionado em meu post de junho/2022. Este trecho também faz parte de uma extensa área de mata, misturadas com brejos de madeiras, formando um corredor ecológico e se comunicando com várias outras áreas. Contudo, este que vos escreve nunca teve a oportunidade de avistar uma onça na região. Nem mesmo quando adentrava à mata do morro redondo para cortar lenha ou colher cabo de enxada.

Existem também outras notícias acerca de ocorrência de onças. Agora às margens do Rio do Peixe, só que bem mais a baixo, na mata dos Meireles, já quase na fazenda São Mateus. Ali em um local chamado de ponte “do onça” várias pessoas já relataram terem vistos onças atravessando a estrada à noite e de madrugada. Também não tive oportunidade de testemunhar a travessia das feras por esse local.

Onça mesmo, eu vi ao vivo foi no zoológico e depois no Pantanal, quando lá fui pescar. No Pantanal, não onça pintada, mas do pelo preto, panteras. Não vi a cor dos olhos delas porque as observei de longe, todas faceiras, acomodadas em um galho de árvore. Eram umas 4, todas dormindo, pelo menos é o que parecia. Nem tampouco pude fotografá-las, pois estavam muito longe e minha máquina de fotografia, à época, não possuía os recursos de aproximação e zoom. Uma pena!

Mais recente o que tivemos foi a onça pintada que apareceu nas matas do krambeck, reserva natural e elevada a Jardim Botânico da UFJF, e que ficou rondando pela região por pelo menos uns dois meses, até ser capturada e levada para um habitat próprio. Nesse período até as capivaras, habitantes do rio Paraibuna desapareceram da área.

Será que a que foi vista em Torreões, noticiada pelo meu primo, não seria a mesma fazendo o caminho de volta para a mata do krambeck?

Uma outra notícia, essa bem mais recente, na região de Três Marias, num local próximo chamado toca da onça. Moradores relataram a ocorrência da fera e ataques a animais domésticos como cachorros, bezerros e galinhas.

Até a próxima.

 

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